terça-feira, 21 de outubro de 2008

Eles não sabem...

"Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,

como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,

como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel.
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Columbina e Arlequim,
passarola voadora, pára-raios,
locomotiva, barco de proa festiva,
alto-forno, geradora, ultra-som,
televisão, desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mão de uma criança. "

António Gedeão

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